• O QUE É ANEURISMA CEREBRAL?
Aneurisma cerebral é uma dilatação anormal da parede de uma artéria do cérebro. Muitas vezes só se descobre o aneurisma quando ele se rompe, havendo sangramento no cérebro ou no espaço subaracnóide (espaço onde circula o líquido que nutre o cérebro) causando o que chamamos de acidente vascular encefálico (AVE) hemorrágico, que, se severo, pode causar dano cerebral e até morte. A ruptura inicial leva à morte em quase um terço dos pacientes. Alguns pacientes podem apresentar mais de uma hemorragia se não tratada logo, o que aumenta a probabilidade de óbito.
*Como se desenvolve?
A ruptura do aneurisma pode ocorrer em qualquer fase da vida, havendo maior frequência entre pessoas de 35 a 60 anos. Mulheres tem maior probabilidade de desenvolver aneurismas cerebrais devido a baixos níveis de estrogênio, episódio que ocorre durante o período da menstruação e se acentua na menopausa. Existem fatores de risco, como a incidência aumentada em familiares de primeiro grau como pai, mãe e filho(a). 20% dos pacientes apresentam mais de um aneurisma. Outros fatores de risco são: hipertensão arterial, dislipidemias (aumento nos níveis de colesterol e triglicerídeos), doenças do colágeno, diabetes e, principalmente, o tabagismo.
• INCIDÊNCIA
Existe um risco anual entre 0,5 a 3% das pessoas com aneurisma cerebral poderem sofrer um sangramento. Após a ruptura de um aneurisma, 10-15% destes pacientes não sobrevivem até a chegada ao hospital e cerca de 30% morrem dentro dos trinta primeiros dias depois do sangramento. Daqueles que sobrevivem, aproximadamente metade sofre alguma sequela neurológica permanente. O aneurisma cerebral pode ocorrer em pessoas de todas as idades, porém é mais comum ser descoberto entre 35 e 60 anos. Para cada quatro mulheres com aneurisma cerebral, existe um homem com o mesmo problema.
• SINTOMAS DOS ANEURISMAS ROTOS (COM SANGRAMENTO AGUDO)
Os sintomas são ricos e intensos, sendo os mais comum o relato do paciente de “a pior dor de cabeça da vida”. Outros sintomas frequentes são: náuseas, vômitos, dor na nuca, rigidez no pescoço, dor nas costas e nas pernas (isso ocorre quando o sangramento atinge a coluna, provocando irritação das raízes nervosas), visão borrada ou dupla, dor em cima e atrás dos olhos, sensibilidade aumentada à luz, convulsões, perda da consciência, fraqueza ou falta de sensibilidade de um lado do corpo e/ou da face.
• SINTOMAS DOS ANEURISMAS NÃO ROTOS (QUE NÃO APRESENTOU HEMORRAGIA)
Na grande maioria das vezes, não apresenta sintoma algum, o que a torna uma doença silenciosa;
Mas em alguns casos pode ocorrer: visão dupla, perda da visão periférica, dificuldades na fala, modificações súbitas no comportamento, perda de equilíbrio e coordenação, concentração reduzida, isquemias cerebrais de repetição (pode haver formação de pequenos coágulos dentro do aneurisma, levando à liberação destes para a corrente sanguínea e “entupindo” pequenas artérias”).
• DIAGNÓSTICOS DOS ANEURISMAS CEREBRAIS
Convém ao médico realizar quatro possíveis exames:
– Tomografia de crânio – para identificar possíveis sangramentos;
– Angiotomografia;
– Angioressonância;
– Angiografia cerebral (padrão ouro para estudo e planejamento do tratamento).
• TRATAMENTO DOS ANEURISMAS CEREBRAIS
Recomenda-se ao paciente consultar um neurocirurgião para averiguar o melhor tratamento, podendo ser:
a) Tratamento microcirúrgico (cirurgia aberta): para alcançar o aneurisma, os cirurgiões devem fazer uma retirada de um pedaço do osso do crânio, um procedimento cirúrgico chamado craniotomia. O cirurgião então disseca o tecido cerebral e coloca um clipe metálico muito pequeno através do colo (“pescoço”) do aneurisma para interromper o fluxo de sangue no seu interior. Depois de clipar o aneurisma, o osso é recolocado no seu lugar original, e a ferida é fechada.
b) Tratamento endovascular (minimamente invasivo): o tratamento por embolização dos aneurismas cerebrais começa com a inserção de um cateter na artéria femoral, pela virilha do paciente, promovendo a navegação dele pelos vasos sanguíneos cerebrais até o aneurisma, por visualização de contraste no RX, em uma máquina, chamada de hemodinâmica.
Pequeninas molas/espirais de platina são inseridas pelo cateter e inseridos no interior do aneurisma, bloqueando o fluxo de sangue.
*Stent Desviador de Fluxo: opção mais avançada atualmente onde, também por utilização do cateter, é colocado um stent no vaso onde se encontra o aneurisma, retirando o fluxo no seu interior, promovendo o fechamento da lesão por estagnação do sangue, trombosando no seu interior.
• A RECUPERAÇÃO
Embolização x cirurgia convencional (aberta)
No primeiro caso, a recuperação tende ser mais rápida por se tratar de um procedimento minimente invasivo, não ocorrendo as alterações metabólicas ao trauma que uma cirurgia de grande porte causa.
• TRATAMENTO DE ANEURISMAS CEREBRAIS ROTOS (QUE SANGRARAM)
Até há pouco tempo, a maioria dos estudos científicos sobre cirurgia convencional ou tratamento endovascular dos aneurismas cerebrais eram de pequeno porte, sem grande impacto científico, visto que se baseavam na análise de registros hospitalares. O primeiro grande estudo clínico que comparou a embolização com a cirurgia convencional (aberta) no tratamento de aneurismas cerebrais foi o International Subarachnoid Aneurysm Trial (ISAT) que envolveu mais de 2 mil pacientes e foi publicado na revista científica Lancet, em 2005.
O estudo ISAT concluiu que pacientes assistidos pelos dois tipos de tratamentos tiveram na embolização melhor resultado que na cirurgia convencional.
O risco relativo (RR) de morte ou sequelas significativas em um ano de pacientes submetidos a embolização foi 22,6% mais baixo do que em pacientes tratados cirurgicamente.
Os resultados do estudo foram tão contundentes que chegaram a ser suspensos precocemente, antes do término previsto. Determinado pelo Comitê de Ética do estudo, foi encerrado o estudo com um total de 2.143 pacientes.
Lembramos que, quando se trata de aneurisma cerebral, cada caso é particular, sendo sempre do neurocirurgião a palavra final para determinar o melhor tratamento, seja ele pela via endovascular ou cirurgia convencional (aberta).